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sexta-feira, 22 de maio de 2009

A HIERARQUIA NO SISTEMA TONAL

Papo de músico antes de tocar: “Qual é o tom da música?”.
Pois bem, quando falamos em “tom da música”, estamos de maneira genérica dizendo que uma nota é a principal e que as outras 11 notas musicais estarão relacionadas a essa nota de maneira harmônica. Dizer que o tom é Dó Maior, significa uma séria de coisas que irão orientar o músico para que entenda melhor o decorrer da música.
Não significa que a nota dó, neste caso, seja mais importante, mais “bonita”, ou que mereça maior atenção. Significa apenas que as demais notas devem estar submetidas a um relacionamento onde a tônica é a nota Dó.
Nenhuma nota é independente no sistema tonal, perante a nossa percepção auditiva todas elas são submetidas à nota que rege o centro tonal. Nem mesmo no sistema atonal ou modal, que são outras formas de organizar as 12 notas musicais, estamos livres de comparar as notas.
É imaturidade achar que uma nota pode ser independente perante todo um sistema de organização melódico-harmônico e é tolice tentar convencer sobre essa teoria equivocada, sob risco de prejudicar toda a melodia e harmonia da música e auferir o bem-estar dos ouvintes.
No final seja em uníssono, em terça maior ou menor, o acorde final terá a tônica como nota mais grave, a famosa posição fundamental. É isso que garante a nossa satisfação auditiva.

30/04/2009
Rafael Ribeiro
bacharel em música pela Faculdade de Artes Alcântara Machado

quarta-feira, 20 de maio de 2009

INTRODUÇÃO A LINGUAGEM JAZZÍSTICA

BREVE:
"INTRODUÇÃO A LINGUAGEM JAZZÍSTICA"
por
RAFAEL RIBEIRO

O que é a Linguagem Jazzística
Talvez o que poucas pessoas entendam na prática e menos ainda conscientemente, é que fazer música é a arte de envolver as pessoas através dos sons. Isso significa indiretamente que a capacidade para improvisar é proporcional ao êxito final deste princípio.
Fazer música sempre foi de uma maneira mais singela, fazer jazz. A medida que a complexidade se expande paralelo ao tempo, evolui em forma de espiral a perspectiva em relação a improvisação.
É assim que ela, a improvisação, se consagra enquanto gênero musical e vem se transformando no talento de cada homem que primeiramente transcendeu o seu presente e por conseqüência será sempre lembrado no futuro.
Portanto, é importante frisar que embora o Jazz tenha nos sido apresentado como um gênero característico de um país, o seu destino não poderia ser outro senão a propagação pelo mundo. Uma abordagem íntima do fazer musical, independente de gênero.
A Linguagem Jazzística é o entendimento de que a música tem uma forma e um ritmo e que esses dois elementos, em última instância, delineam a improvisação.
Para tocar Jazz é preciso entender e explorar as propriedades do som (altura, intensidade, duração e timbre) em cada elemento da estrutura musical (melodia, harmonia, ritmo e forma).
Entenda ainda que mesmo os gêneros musicais que não utilizam da improvisação estão a merce do tempo, que sempre muda a perspectiva. A música e o arranjo podem ser os mesmos, os profissionais podem ser os mesmos, mas os indivíduos sempre são diferentes, a ocasião nunca se repete. Até o apreciador passivo é outro a cada orelha.

Os Primórdios do Jazz
A primeira coisa que deve ser esclarecida a respeito da história do jazz é que as datas são pontos na linha do tempo que marcam transformações mais evidentes, e que há paralelamente a ascensão de um novo estilo e o declínio do anterior. É preciso ter discernimento, pois um livro conta uma versão e nenhum a verdadeira história. No decorrer deste esboço da origem do jazz será apresentado outros entendimentos a respeito desta história toda.
Três coisas são de comum acordo entres os estudiosos do assunto: a mistura da música africana e européia; a improvisação como essência do jazz; e que New Orleans foi o palco deste Big Bang.
Blues, ragtime, e spirituals são estilos que influenciaram cada um em sua proporção, um jazz já existente. O Blues sem dúvida se tornou o primeiro irmão do jazz, a tal ponto que na linguagem jazzística se consolidou como uma estrutura musical, a “forma blues” como a conhecemos.
Contudo, o marco zero do jazz são os negros tentando imitar as marching bands dos brancos. Com instrumentos precários, sem técnica de execução e sem conhecimento teórico os negros tentam imitar as bandas marciais dos brancos que faziam os cortejos fúnebres.
Nestas condições o que mais além da improvisação poderia prevalecer?
Rafael Ribeiro
bacharel em música pela Faculdade de Artes Alcântara Machado

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Critical Mass - Dave Holland

Inglês nascido em 1946, contrabaixista desde os treze anos, Dave Holland é hoje ícone do jazz tal como Ray Brown, ídolo que o fez se apaixonar por esse gênero musical. Antes de entrar para o grupo de Miles Davis em 1968, já havia tocado com Coleman Hawkins e Joe Henderson. Atuou ainda com Anthony Braxton, Chick Corea, Stan Getz, Thelonious Monk, Jack DeJohnette, Herbie Hancock, Pat Metheny, Wayne Shorter e Sam Rivers, o seu grande parceiro musical.Seu último trabalho, Critical Mass (2006), gravado em quinteto com Chris Potter (sax soprano e tenor), Robin Eubanks (trombone), Steve Nelson (vibrafone e marimba) e Nate Smith (bateria) o único com quem ainda não havia gravado, parece uma síntese da história do jazz. Os primeiros elementos utilizados na improvisação e o mais sofisticado tratamento de harmonia e forma, estão claramente audíveis neste disco, e por isso pode ser considerada uma das melhores aulas do gênero.
A interação dos músicos evidencia o quanto é necessário estar concentrado no som de todo o grupo e atento ao desenvolvimento das idéias musicais que o solista escolhe como referência. Motivos rítmicos, frases ascendentes ou descendentes, saltos melódicos, expansões harmônicas e variações de dinâmicas, qualquer material pode ser um recurso matriz de um novo ciclo. Mais, algumas vezes um efeito acumulativo gera sub-temas, assim como na música de Beethoven. A cada faixa novas possibilidades são apresentadas e num resultado final o disco mostra sua essência: uma conversa musical onde o assunto é tratado sob perspectivas diversas. Ouvindo e tocando ao mesmo tempo os músicos influenciam e se deixam influenciar, embora isso não signifique que o trabalho seja puramente espontâneo. O formato do arranjo é muito bem definido e alguns improvisos fazem referência até mesmo a essa estrutura, onde formas são sobrepostas e interpostas.
Talvez a faixa “Vicissitudes” seja o exemplo chave dessa aula, primeiro pela própria exposição do tema que é repetido três vezes, e a cada vez a orquestração é diferente. Segundo, pelo desenvolvimento das idéias musicais dos solistas. Chris Potter em seu improviso, cita “Garota de Ipanema”, e termina com o motivo rítmico que o tema de Holland tem como final. Steve Nelson, atento ao solo de Potter, repete a idéia imediatamente e acaba por fazer desta pequena célula rítmica o material de seu improviso. Nate Smith ensina que além de conduzir bem, um baterista deve saber improvisar, e isso significa comentar o tema na forma. Por fim, o acompanhamento do band-lider Dave Holland que dá na medida certa, suporte e espaço para os solistas.
Conhecendo a trajetória de cada músico envolvido neste trabalho, pode-se compreender que jazz se faz improvisando, mas é necessário um bom tempo de vivência ao lado de bons professores. Por isso a melhor síntese, em geral, faz quem aprendeu na fonte. Tomara esse álbum seja ouvido pelos músicos que se dispõem ao jazz, para que esta música evolua também segundo suas fontes. Tomara Holland, que hoje está entre a santíssima trindade do contrabaixo acústico jazzístico ao lado de Charlie Haden e Ron Carter, continue ativo por muitos anos para que se aprenda cada vez mais com ele.
Rafael Ribeiro
bacharel em música pela Faculdade de Artes Alcântara Machado

Bate palma com vontade

Chico Buarque talvez seja o compositor brasileiro que melhor reúne, nas letras de suas canções, erudito e popular numa mistura híbrida e singular. As melodias e harmonias de suas músicas recebem sempre um tratamento minucioso, tamanho cuidado que interpretar suas composições é um desafio para músico nenhum desmerecer.
A cantora paulistana Mônica Salmaso, que já havia cantado a música “Imagina” no álbum Carioca de Chico Buarque, tomou esse desafio musical para si e agora em 2007 lançou Noites de Galas, Samba na Rua, com as canções de Chico e alguns parceiros. Mônica escalou o grupo Pau Brasil, formado por Nelson Ayres (piano), Paulo Bellinati (violão e cavaquinho), Rodolfo Stroeter (baixo), Ricardo Mosca (bateria e percussão) e seu marido, Teco Cardoso (sax e flauta). O grupo também já gravou com Chico em 1988, o disco A Dança Da Meia-Lua que o mestre das palavras criou em parceria com Edu Lobo. Numa verdadeira noite de gala com o bom samba na rua, o trabalho é fino, a voz de Mônica se entrelaça ao som de cada instrumento, conseguindo não só acrescentar algo novo as canções de Chico Buarque, mas elevando a meditação musical ao mesmo nível da literária.
“Eis o malandro na praça outra vez, caminhando na pontas dos pés, como quem pisa nos corações...” são as primeiras palavras que se escuta na voz de Mônica, é a música “A volta do Malandro” que abre o disco, e talvez trocasse “malandro” por “Chico” não fosse a diferença silábica, ou quem sabe “Francisco” como em “O Velho Francisco” que sucede a primeira faixa. Entretanto os músicos parecem deixar a desconstrução para “Construção” numa sábia atitude de transformar a dificuldade em virtude e assim saíram-se muito bem na inevitável comparação com a gravação original, abrindo espaço até para um sax-ambulância. A “Ciranda da Bailarina” é um pega-pega esconde-esconde, onde os timbres surgem e fogem numa brincadeira de gente grande, “Logo Eu” é transformada por essa menina e seu amigos ao melhor estilo Noel Rosa e Pixinguinha.
Em todo o disco as músicas quase não sofrem alterações harmônicas, o foco está em outros elementos musicais, entre eles a combinação timbrística e variações na condução rítmica, como em “Olha Maria” que tem uma refinada linha de flauta. As texturas são amplamente exploradas, num organizado acompanhamento lado a lado com a voz da cantora. Cada músico parece esperar a sua vez, caminhando assim de viés.
“Quem te viu, quem te vê” é a oitava, dentre as catorze músicas do álbum, e ao motivo da coda que Mônica, na mais fina companhia, fez para a música, fica a curiosidade que vos cabe. É uma obra de arte para ser apreciada e meditada minuciosamente. Uma audição que faz transcender à uma noite de gala em que o próprio Mestre-Chico bate palma com vontade.
Rafael Ribeiro
bacharel em música pela Faculdade de Artes Alcântara Machado